O Banco Central planeja integrar Pix, Open Finance e Real Digital para desenvolver uma economia digital no país com mais eficiência e segurança nas transações. Com os dois primeiros já em funcionamento e obtendo sucesso e aprovação dos brasileiros, o Real Digital está em seu processo de testes.
Real Digital é uma moeda digital de um banco central (da sigla em inglês CBDC, Central Bank Digital Currency). Em outras palavras, é a forma eletrônica do Real, vista com bons olhos para reduzir a evasão fiscal e oferecer maior conveniência e eficiência na realização de pagamentos tanto no varejo tradicional quanto no e-commerce.
Apesar de a ideia ser estabelecê-lo como uma moeda paralela ao Real físico, continuando o processo de digitalização financeira, há também a defesa da extinção do papel-moeda no Brasil, por meio do Projeto de Lei 4068/20, que visa transações financeiras exclusivamente digitais e está em análise na Câmara dos Deputados.
Em anúncio realizado em março deste ano, o coordenador do projeto no Banco Central, Fabio Araujo, reiterou que o Real Digital vai permitir a transferência de ativos financeiros de forma tão instantânea quanto o Pix, dando suporte também na oferta de serviços financeiros do sistema.
Outro elemento importante no uso do Real Digital é a chamada tokenização de ativos: a inclusão de ativos financeiros e físicos em redes blockchain, buscando facilitar seu registro e negociação. O estudo da moeda eletrônica se iniciou em 2021 no LIFT (Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas) e os seus testes começaram em 2023, com previsão de estar à disposição dos correntistas no final de 2024.
Uma dessas fases é o desenvolvimento de um projeto piloto, em que estão sendo testadas funcionalidades de privacidade e programabilidade por meio da implementação de um caso de uso específico – um protocolo de entrega contra pagamento (DvP) de título público federal entre clientes de instituições diferentes, além dos serviços que compõem essa transação.
O BC iniciou a incorporação dos participantes à plataforma do piloto do real digital neste mês de junho. A previsão é concluir os testes com real digital (atacado) e real tokenizado (varejo) até dezembro e com títulos públicos federais até fevereiro de 2024. Assim, a ideia é apresentar os resultados dos testes como um todo em março do ano que vem.
Outras medidas que serão implementadas pela instituição são o agregador financeiro e a carteira digital, para que os usuários tenham acesso a aplicativos que ofereçam toda a gestão financeira e união de contas em um mesmo local.
Relação com o Pix e Open Finance
De acordo com o chefe da Gerência de Gestão e Operação do Pix do Banco Central, Carlos Eduardo Brandt, o Pix e o Real Digital se complementam, gerando benefícios tanto para empresas quanto para consumidores.
— O BC não está fazendo algo para se sobrepor ao que ele mesmo fez. Existe a visão de que em determinados casos, principalmente em soluções de serviços financeiros, o real digital vai ocupar o espaço para esses produtos
Quase três anos desde o lançamento, o Pix conta com mais de 153 milhões de usuários. Já o Open Finance, que chegou ao mercado em fevereiro de 2021, superou recentemente 30 milhões de consentimentos.
Por isso, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também revelou este mês que uma das expectativas é a criação de um Super App para integrar todos os produtos e serviços financeiros, a partir do compartilhamento de informações proporcionado pelo sistema de finanças abertas.
O Open Finance atuaria em três camadas dentro dessa integração: protocolos (pagamentos, investimentos, crédito, etc.), aplicativos e agregação (os fornecedores efetivos dos serviços). A ideia é que o Open Finance sirva para integrar diferentes instituições e protocolos, “ligando diferentes modelos de negócio inerentes ao sistema financeiro”.
Entre os destaques neste mercado aparece a Celcoin, que surgiu como pioneira no Open Finance e, hoje, adequa as maiores inovações dessa tecnologia a empresas de todos os portes e setores. Integrado ao Open Finance estão ainda as soluções de Banking as a Service (Baas), que permitem às corporações realizarem suas próprias operações financeiras, como Pix Cash-In, Cash-Out, transferências múltiplas e muitas outras.
Expectativas com o Real Digital
De acordo com uma pesquisa realizada pela startup de infraestrutura Cryptum com 1041 consumidores de perfil geral, 93% dos entrevistados afirmam que já ouviram falar de moedas digitais e 80% disseram ver com bons olhos essa iniciativa.
Dentro das expectativas com a moeda tokenizada, 53% do público geral espera economia de tempo no processo, assim como 42% esperam uma redução da burocracia, 37% veem uma maior simplificação na aquisição dos produtos financeiros e 52% se importam com a cibersegurança da plataforma.
Em outro levantamento com 104 executivos C-level de empresas financeiras, 28% deles expressaram descrença em sua implementação e 34% acreditam que as empresas ainda não estão prontas para esse modelo, enquanto outros 25% estão atentos às discussões sobre o assunto.