Com agendas de open finance e Pix convergindo, quem não priorizar o pagamento instantâneo criado pelo BC vai ficar para trás.
A jornada sem redirecionamento promete ser uma revolução nos meios de pagamentos, proporcionando, de um lado, uma experiência mais fluida para o consumidor e, de outro, obrigando as instituições a repensarem suas trilhas.
“Trata-se de um produto que dá uma subida de régua de forma fantástica. Vai obrigar aos bancos a redirecionar suas jornadas e vai permitir o surgimento de muitas fintechs. Também estamos falando em pagar com NFC sem precisar de PoS, o que reduz o custo com as maquininhas. Vai dar uma revolucionada no mercado”, frisou Luís Moraes, gerente executivo de produtos na Celcoin, ao participar do painel Revolução do Pix: aproximação, biometria e inteligente, no Fintouch 24, realizado pela ABFintechs em São Paulo.
Em agosto passado, o Banco Central do Brasil publicou as Resoluções BCB Nº 406 e Nº 407, detalhando o funcionamento da jornada sem redirecionamento, as regras de participação e as responsabilidades das instituições envolvidas. O regulador também estabeleceu novos requisitos de capital social e patrimônio líquido mínimos para as instituições que optarem por ofertar esse serviço.
Com isso, o BC abriu caminho para a redução de etapas nos pagamentos online e a oferta de Pix em carteiras digitais (wallets), inclusive para pagamentos por aproximação por meio da tecnologia near-field communication (NFC).
A implementação da funcionalidade será obrigatória, a partir de novembro de 2024, para as instituições detentoras de conta que movimentaram 99% das transações de iniciação de pagamento. A partir de janeiro de 2026, a obrigatoriedade se estende às demais instituições detentoras de conta participantes obrigatórias no Pix.
O compartilhamento de serviços sem redirecionamento, conforme explicou Natália Falcão, analista no departamento de regulação do Sistema Financeiro do Banco Central, foi uma demanda levada ao BC pelo mercado. O anseio era que o cliente não precisasse sair do aplicativo.
“O mercado nos ajudou a pensar na solução. Tudo em open finance construímos em conjunto”, disse, explicando que a jornada pressupõe um pagamento autorizado, sem sair do ambiente do iniciador.
Marcelo Martins, diretor-executivo na ABFintechs, ponderou que o open finance acaba sendo a nova infraestrutura para pagamentos, com padronização, interoperabilidade e obrigatoriedade regulatória.
Se, antes, conforme ressaltou Luís Moraes, da Celcoin, open finance e Pix eram tratados como duas agendas separadas, os recentes anúncios apontam para a conversão deles. “Eles foram pensados para atuarem juntos, sendo complementares. Agora, sim, estamos olhando para os dois juntos; estamos vivendo um divisor de águas”, assinalou Moraes.
A evolução do Pix agendado/recorrente para o Pix automático — algo que se assemelha com o débito automático — e o Pix inteligente (ou transferências inteligentes, pelas quais o cliente, pessoa física ou jurídica, pode programar movimentações entre contas de diferentes instituições de forma automática) são exemplos disso.
“O Pix automático é algo muito esperado pelo mercado, porque permite que a estrutura de débito automático, até hoje fechada para algumas empresas e disponível aos bancos incumbentes, se abra para mais agentes arrecadadores; e de forma mais inteligente e mais administrável”, ressaltou Moraes. “Quem não estiver em uma jornada clara priorizando o Pix vai ficar para trás”, completou o executivo da Celcoin.
Para Natália Falcão, do Banco Central, melhorar a interoperabilidade e fazer com que os produtos lançados sejam atraentes para os consumidores são desafios e objetivos a serem alcançados.
“É fazer de modo que, já no lançamento, o cliente perceba a usabilidade do produto. Outro desafio é o monitoramento, além da qualidade de dados ser muito importante para todo o processo”, assinalou Falcão.
Para Moraes, da Celcoin, um ponto de atenção é que, cada vez mais, a agenda do Banco Central vai obrigar que startups atendam a uma série de requisitos, o que demanda mais pessoal e expertise. “As fintechs que estão nascendo vão precisar muito de ajuda, de aceleradores, senão, daqui a pouco, não vamos mais conseguir ter startups com quatro pessoas”, disse.