Finternet: a cara do futuro sistema financeiro?

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Finternet: conceito explora a necessidade de interconexão dos diversos mercados financeiros em um modelo semelhante à internet

Desde junho, um novo conceito vem ganhando terreno nos conteúdos relacionados ao futuro dos ecossistemas financeiros. Fusão dos termos internet e finanças, a palavra Finternet é a protagonista do artigo assinado por Agustín Carstens, gerente-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), e pelo empreendedor indiano Nandan Nilekani, fundador da big tech Infosys.

Os autores do artigo “Finternet: the financial system for the future” (Finternet: o sistema financeiro do futuro, em tradução livre) definem Finternet como “uma visão para o futuro do sistema financeiro com múltiplos ecossistemas financeiros interconectados entre si”. Na prática, trata-se de uma estrutura muito semelhante à da internet. Esse novo olhar para o mundo das finanças tem o objetivo de agilizar e tornar mais eficientes as transações financeiras para atender às necessidades de indivíduos e organizações.

Baseada em infraestrutura digital de DLTs (livros-razão unificados), que funcionam como alavanca para a tokenização, aprimorando as transações financeiras existentes, a Finternet pode entregar simultaneamente uma arquitetura econômica e financeira mais eficiente; aplicações digitais de ponta e estrutura jurídica e governança mais robustas. É um empurrãozinho para que o sistema financeiro global não perca o bonde da jornada da digitalização, sem abrir mão da conformidade e da padronização.

Empoderamento de pessoas e organizações

A semente da Finternet foi plantada em uma conversa entre Carstens e Nilekani, durante uma reunião do G20 (fórum de cooperação econômica internacional com a participação das principais economias do mundo, desenvolvidas e emergentes) realizada na Índia em 2023. 

Nikelani foi um dos protagonistas na transformação digital da Índia. Ele participou ativamente da implantação do Aadhaar, que é o projeto de identidade digital estabelecido em 2009 pela Autoridade de Identificação Única da Índia, baseado em dados biométricos e demográficos.

A proposta de Carstens e Nilekani, com a Finternet, é transformar a realidade das áreas que compõem os sistemas financeiros. Na concepção dos autores, esses sistemas estão presos a uma lógica do passado. Muitas transações ainda levam dias para serem concluídas e dependem de sistemas de compensação, com trilhas físicas em papel. “Acreditamos que estamos no limiar de uma oportunidade semelhante em serviços financeiros”, afirmam.

A visão de que é o momento certo para a entrada da Finternet em campo é impulsionada por uma atuação mais efetiva de indivíduos e empresas na gestão financeira. Outros fatores reforçam esse sentido de oportunidade, como a evolução regulatória impulsionada pelas inovações financeiras; o avanço da tokenização e tecnologias baseadas em criptografia, e a expansão da inteligência artificial (IA) nos serviços financeiros, melhorando processos de validação de identidade e gerenciamento de fraudes. 

A IA, aliás, é apontada no artigo como a tecnologia pronta para revolucionar os serviços financeiros, aprimorando a verificação de identidade, o gerenciamento de fraudes, a subscrição e os serviços de consultoria. O momento é crucial, na visão dos autores do artigo, porque a IA generativa está num ponto de mutação, com potencial para agilizar muitas tarefas de backoffice, reduzir custos e agilizar processos operacionais. 

O artigo destaca ainda que a capacidade da IA na detecção de novos padrões de dados é um aliado das instituições financeiras para entenderem melhor as necessidades e a capacidade de crédito dos clientes. A tecnologia também simplifica os processos de conformidade, como verificações de KYC (“conheça seu cliente”), reduzindo custos e melhorando a velocidade e a precisão.

Mais poder para o usuário

O ambiente da Finternet terá menos fricção. Isso será possível pela combinação de contratos inteligentes, smart contracts (espécie de acordos digitais que dispensam intermediários, como bancos ou entidades reguladoras) e soluções avançadas de programação. Essa dobradinha poderá aprimorar processos de liquidação e compensação. 

A lógica da Finternet, baseada na velocidade e na confiabilidade do sistema financeiro global, resulta na redução de custos para o usuário final. Trata-se de um modelo centrado no usuário que promete diminuir barreiras entre serviços e sistemas financeiros, favorecendo um acesso mais democrático. Empresas e indivíduos assumem o protagonismo de suas decisões no ambiente financeiro. 

Nesse cenário, os usuários poderiam transferir ativos financeiros, a qualquer momento, independentemente do dispositivo escolhido, para qualquer destinatário e em qualquer parte do mundo. A adoção da Finternet tem potencial para a criação de produtos e serviços financeiros, totalmente baseados no modelo digital e de economia tokenizada.

Ambiente regulatório ainda desafia

Para que a Finternet alcance seus propósitos, é necessário, porém, desenvolver um modelo jurídico-legal que garanta segurança e privacidade das transações. Na visão do BIS, o modelo DLT pode solucionar algumas questões na esfera da governança. Para isso, seria necessário criar uma camada com regras de conformidade baseadas nos contratos inteligentes.

Antes que tudo isso esteja em pleno funcionamento, é preciso pavimentar um aparato tecnológico que caminhe lado a lado com o ambiente legal, garantindo a eficácia regulatória e a adoção de padrões de governança. Embora algumas jurisdições já estejam avançando nesse sentido, a Finternet depende de uma evolução global com a cooperação de entes públicos, instituições do setor privado e organizações com atuação internacional.

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