É preciso esquecer o “fin”, das fintechs, e pensar mais no “tech”, declarou recentemente Marcos Olmos, sócio da Vox Capital. Especialista em negócios de impacto, Olmos destacou que tecnologia é o vetor para garantir mais acessibilidade nos serviços financeiros. A provocação agradou a plateia durante o painel “Serviços Financeiros para Desbancarizados”, no terceiro dia da Rio Innovation Week 2022, realizada no Rio de Janeiro entre 8 e 11 de novembro.
Ao lado de Olmos, Viviane Elias Moreira, professora no programa Business Innovation da Fiap, e Adriano Meirinho, CMO e Cofundador da Celcoin, debateram com Mariane Takahashi, diretora executiva da ABFintechs, o crescimento do ecossistema das fintechs no Brasil e seus desdobramentos para dirimir a desigualdade no acesso a serviços financeiros.
As discussões permearam ainda o caminho que os investimentos em tecnologia e segurança da informação devem percorrer para reduzir as desigualdades no acesso a crédito e serviços financeiros.
Meirinho ressalta que o Brasil ainda não oferece infraestrutura de acesso à internet de qualidade para todos. Segundo o CMO da Celcoin, grande parte da população não tem condições de adquirir smartphones com capacidade para reproduzir aplicativos mais sofisticados.
Por isso, é fundamental que as fintechs tenham uma postura mais inclusiva. Para Meirinho, as instituições financeiras precisam estar atentas às práticas de ESG (do inglês ambiental, social e governança), sobretudo no que se refere ao social.
“É preciso pensar em acessibilidade em todos os sentidos. Essa conscientização é fundamental. Na Celcoin temos o compromisso de desenvolver aplicativos mais leves, que possam ser usados sem prejuízo de consumo de banda para o usuário. Outra questão fundamental diz respeito à inclusão para portadores de necessidades especiais”, diz Meirinho.
Para Viviane Moreira, a população historicamente desbancarizada precisa ter acesso, de fato, ao crédito. Ela defende a igualdade no acesso aos produtos do mercado financeiro para que o crédito possa promover uma mudança de vida e deixar de ser um limitador social.
Educação é antídoto para cibercrime
No Brasil, um dos maiores entraves à concessão de crédito está diretamente ligado aos mecanismos de identificação de risco. É preciso gestão para identificar o apetite de risco na oferta e a capacidade de quitar a dívida no caso do tomador.
Olmos observa que a concessão de crédito depende de um conhecimento local, como varejistas de pequeno porte ou com atuação no interior. “É aí que a tecnologia entra como para ‘granularizar’ a gestão de risco. Com a tecnologia, podemos ser mais assertivos”, afirma Olmos.
No caso do tomador de crédito, Viviane alerta que há uma carência de informação. Na visão de Viviane, a segurança da informação deveria virar uma disciplina no Ensino Fundamental. “Isso deveria ser ensinado nas escolas”, diz.
Para Viviane, a democratização dos serviços financeiros deve ser combinada a ações de educação financeira e informação para combater tentativas de fraudes e ensinar a população a se proteger de ataques cyber ataques, golpes relacionados à engenharia social. Um dos mais populares golpes de engenharia financeira é o phishing, que utiliza técnicas para ativar a emoção do usuário e capturar informações confidenciais.
Regulador aperta o cerco
Meirinho destaca também urgência de investimentos constantes em segurança da informação no ambiente das fintechs. Ele observa que os desafios crescem exponencialmente e chama atenção para o combate aos mecanismos que utilizam a identidade sintética.
Na prática, o golpista usa uma combinação de dados reais e informações falsas para criar contas bancárias e ter acesso à concessão de crédito. A identidade sintética se apropria de informações como CPF de menores de idade e pessoas já falecidas. A prática tem ganhado escala com o aumento de episódios de vazamento de dados.
O CMO da Celcoin ressaltou ainda que o Banco Central (BC) tem aumentado o escrutínio sobre a gestão de risco no sistema financeiro. No ano passado, o regulador publicou um conjunto de normas relacionadas à gestão de riscos no âmbito do sistema financeiro. Uma delas é a Resolução BCB nº 139/2021, que entra em vigor a partir de 1º de dezembro deste ano.
A Resolução BCB nº 139/2021 se refere ao relatório de riscos e oportunidades sociais, ambientais e climáticos. Esse relatório deve detalhar questões de governança do gerenciamento dos riscos. Isso abrange as atribuições e as responsabilidades das instâncias da instituição envolvidas com o gerenciamento do risco social, ambiental e climático. Além dos impactos reais e potenciais de riscos nas estratégias adotadas pela instituição nos negócios.